Marés em Outubro
Texto publicado na edição de Domingo 2006.Set.24 no referido diário da autoria de Ricardo Garcia. Agradecemos a disponibilidade e a prontidão com que este jornalista nos facultou o artigo.
Reparou nas amplas marés dos últimos dias? Então prepare-se: o próximo ciclo de marés vivas, no princípio de Outubro, será o mais forte dos últimos anos. O motivo está numa combinação de factores naturais, entre eles um determinado ciclo lunar que ocorre em períodos de 18,6 anos. E o seu momento de maior influência sobre as marés é agora, ao ponto de nalguns países, como a Irlanda e o Reino Unido, terem sido lançados alertas para o que aí vem.As marés vivas são um fenómeno conhecido de qualquer pessoa que viva junto à costa. Ocorrem uma vez a cada duas semanas e coincidem ou com a Lua Cheia e com a Lua Nova. Mas o que está por trás das marés é algo mais complexo e há muitos factores que determinam o subir e descer do nível da água ao longo do dia.O mais importante é a força de atracção da Lua. Mas também o Sol faz o mesmo: a sua força gravitacional puxa o mar na sua direcção. Embora com uma massa muito maior do que a Lua - 27 milhões de vezes - o Sol está bem mais longe. Contas feitas, a sua força de atracção é cerca de metade (46 por cento) da que é exercida pela Lua. Quando o Sol e a Lua estão alinhados, mesmo que em lados opostos da Terra, as duas forças juntam-se e formam as marés vivas.Outro momento importante para as marés ocorre duas vezes por ano, quando o Sol gira exactamente sobre a linha do Equador. São os equinócios da Primavera e de Inverno, que ocorrem em Março e em Setembro. A força de atracção sobre o oceano é maior nessas alturas.Há ainda outras componentes que não só explicam as marés, como tornam possível prevê-las. É o que faz a matemática Leonor Martins, que trabalha no Instituto Hidrográfico, compilando anualmente as tabelas do sobe e desce diário do mar. As marés, diz, resultam da soma de diversas ondas, cada qual determinada por um factor particular. E cada factor pode ser modelado num computador. "O modelo já sabe quais as principais constituintes das marés", afirma.A componente da maré com período de repetição mais longo é o chamado ciclo nodal. Os nodos são os pontos onde as órbitas da Lua e da Terra se cruzam. E estes pontos fazem uma revolução completa uma vez a cada 18,6 anos. Neste momento, estão numa posição em que a força de atracção da Lua é ainda maior.